10 Preceitos do Programa Baby Signs®

Todos usamos guias, e até mantras, para a vida, para o dia-a-dia. Desde os mais “filosóficos” aos mais práticos. Desde os que mais falamos destes assuntos (notem que usei a fala no plural) aos mais recatados. A verdade é que todos tomamos decisões e fazemos escolhas sobre em que preceitos queremos assentar a nossa atitude perante a vida, perante os outros.

Quando me propus a instrutora do programa Baby Signs®, desde o Manifesto que tive de subscrever – caso contrário, não faria sentido querer ser instrutora, ao mergulho nas obras das fundadoras do programa, foi muito gratificante ir percebendo como tudo faz tanto sentido nele, incluindo como a evidência científica dos preceitos em que este assenta.

Olá, o meu nome é Sandra, sou terapeuta da fala e instrutora do Programa Baby Signs®. Estou aqui, hoje, convosco, porque a Baby Signs Portugal fez-nos o desafio de escolhermos um tema para desenvolver em 10 partes. Escolhi 10 preceitos do Programa Baby Signs® a partir dos livros das criadoras do programa – Linda Acredolo e Susan Goodwyn e que passarei a descrever para vós.

F L E X I B I L I D A D E

O programa tem como base a flexibilidade, foi desenhado e reformulado tendo como cerne esta preocupação. Senão, vejamos como começa:

«Portanto, que abordagem deverá escolher? Os gestos que escolhe para usar com o seu bebé deverão ser baseados naquilo que é mais confortável para si e para a sua família, os vossos objectivos para o gesto, acima de tudo, devem focar-se no que funcione para vós. O seu objectivo é o mesmo que o nosso – ajudar o seu bebé a colher todos os benefícios possíveis do programa.» (1)

Mais à frente, as autoras inclusive referem uma relação entre as famílias que começaram com abordagens mais flexíveis e crianças mais curiosas. Provavelmente porque a flexibilidade gera crianças mais seguras de si…

E M P A T I A

Um programa que pressupõe facilitar a comunicação dos bebés jamais poderia descurar este preceito. E é muito curioso como podemos verificar que o bebé já nasce apetrechado com a capacidade de empatia:

«Não é por um acaso que os recém-nascidos ficam transtornados quando ouvem outros bebés a chorar. A empatia é uma emoção tão importante que os bebés já nascem preparados para ela. E é curioso que, quando ouvem gravações do seu próprio choro, não ficam perturbados. Pelo contrário, ficam fascinados.» (2)

No percurso do Programa Baby Signs®, desde a sua criação e aplicação à difusão e estudo científico, as suas autoras perceberam que as implicações da sua aplicação ultrapassam os seus objectivos iniciais – facilitar a comunicação, acabando por se dedicarem ao desenvolvimento emocional do bebé/ criança e à sua relação com o outro.

L I B E R D A D E

«O que é que torna isto especial?

Uma pergunta natural que surge [em relação à pertinência do Programa Baby Signs®] é: Se todas as crianças aprendem a falar, porque é que importa como o fazem? Isto não é apenas mais um exemplo de parentalidade competitiva a pressionar os filhos a serem melhores do que as outras crianças?

A resposta é: não. Importa, de facto, quando e com que facilidade a criança aprende a falar. A linguagem é um passaporte para as experiências de vida do seu filho, desde brincar com outras crianças a aprender junto dos educadores e cuidadores.

(…)

Os bebés têm muitas coisas para nos dizer e sobre as quais gostariam de falar, mas não conseguem formar palavras faladas porque estas requerem um controlo psicomotor que ainda não têm. Ao dar-lhes modelo de gestos para o objecto de comunicação pretendido, os pais estão a empoderar os seus bebés a ter um papel activo nas interacções e a diminuir a sua frustração.» (3)

Um passaporte é símbolo de liberdade.

Que este excerto não vos leve a pensar que eu (uma terapeuta da fala) vos estou a dizer que os bebés devem todos começar a falar dentro daquele intervalo de tempo sob pena de não adquirir fala. Nada disso.

Este pedaço de texto evoca os seguintes pontos muito importantes:

– Preditores de desenvolvimento – a idade com que a criança começa a falar pode servir como um preditor para outras competências, por exemplo, o seu processo de aprendizagem da leitura e escrita

– Pertinência – as famílias procuram-nos com um leque de motivações diferentes entre si, a competitividade é a única que nós, Instrutores do Programa Baby Signs, não subscrevemos. O que nos move é poder dar ferramentas às famílias para uma comunicação efectiva e não para que o seu bebé tenha um avanço na vida em relação a outros.

– Respostas em consonância com o potencial – enquanto, por um lado, o bebé tem limitação psicomotora para falar, isso não quer dizer que não tenha coisas para nos transmitir. E isto leva-nos ao seguinte ponto.

– LIBERDADE – oferecer alternativas de comunicação ao seu bebé é dar-lhe liberdade de se manifestar.

C O N E X Ã O

«É um facto sobre os humanos que, quando conseguimos comunicar, nos sentimos mais conectados. E, quando essa conexão, especialmente entre pais e bebé, resulta em tantas interacções positivas – como as vivenciadas por estas três crianças [em relação a episódios relatados com bebés sujeitos ao Programa Baby Signs®], o produto são, inevitavelmente, sentimentos de afeição e amor.» (1)

Sendo que uma comunicação eficaz é o objectivo mais evidente de um programa como o é o Baby Signs®, é importante salientar que a conexão, entre outros benefícios relacionados com o foro das relações conscientes, é uma mais-valia incalculável para as famílias. Afinal, para lá das evidências científicas – que nos são obviamente úteis, isto é do senso comum, ninguém pode negar que uma boa conexão depende de uma boa comunicação – seja ela verbal ou não-verbal. E “comunicação” não tem de significar uma troca intensa e/ ou exaustiva de informação, mas antes uma troca eficaz… e efectiva.

H U M O R

«Lembre-se, apoiar as tentativas de humor por parte do seu bebé é muito importante, pois na génese do humor está a criatividade. Mesmo que o seu filho esteja apenas a recontar uma anedota que ouviu noutro lugar, antes, precisou de fazer ginástica mental para retirar dela o humor. E quando ele surgir com as suas próprias anedotas, como a Kai fez com o tio Peter [alusão a episódio relatado no capítulo], é tempo para se mostrar impressionado. Nada disto é fácil, e aqueles que o fazem bem estão a mostrar flexibilidade mental e criatividade, independentemente da sua idade.» (3)

O humor está sempre presente no meu dia-a-dia. Adoro rir. E, enquanto profissional de saúde, cabe-me também lembrar-vos o bem que traz à nossa saúde, desde a segregação de serotonina e endorfinas, que proporcionam relaxamento físico e emocional, ajuda-nos a combater o stress e prevenir depressão, e no fortalecimento do sistema imunitário. Com o riso, fazemos também muito exercício muscular (a sério!), nomeadamente, e esta é a parte específica de que a terapeuta da fala em mim gosta em particular: trabalhamos a musculatura orofacial. E isto sem falar nas capacidades de meta-linguagem necessárias. Uau. Quem diria que o humor trabalha tantas competências, estimulando o desenvolvimento do seu bebé? Mas, atenção, ainda mais importante do que estes benefícios, é o fortalecimento de laços que proporciona, com uma grande componente de cumplicidade que existe nas pessoas que partilham entre si determinado estilo de humor.

E todos sabemos que os bebés já nascem equipados para o humor, aproveitem.. e divirtam-se! Rir não é apenas o melhor remédio, é também a melhor prevenção.

C R I A T I V I D A D E

«A criatividade deixou de ser um apanágio exclusivo da arte, da literatura e da música. Cada vez mais, as pessoas reconhecem a mão da criatividade a cada passo de áreas tão distintas como a ciência e a indústria computacionais, a medicina e até na área dos negócios. Tal como verificámos neste capítulo, a “criatividade” não é uma coisa que a sua criança recebeu, ou não, da Mãe Natureza. Antes, a criatividade é uma atitude perante o trabalho ou brincadeiras – para ser mais preciso, um conjunto de atitudes. Incluído neste conjunto existem factores que claramente funcionam como preditores de resultados escolares e na vida em geral, tais como: curiosidade, auto-confiança, capacidade para avaliar riscos, e força de vontade para enfrentar trabalho árduo.» (3)

Uau, quem diria que a criatividade dá tanto trabalho, hein? E quem diria que é como um músculo que se treina?

Todos os pais e mães sabem disto, se não tinham a criatividade treinada antes da parentalidade, certamente que depois dela tiveram de puxar pela imaginação para muitos dos desafios de cada dia. Aposto que estão a acenar que sim com a cabeça. As “figuras” em que nos vemos na parentalidade… Aqui entra o preceito de cima, que muito tem a ver com este, o humor. Isto anda tudo ligado.

U N I V E R S A L I D A D E

«Duas crianças de creche, uma de Israel e outra de Taiwan, melhores amigas, no Centro para os Estudos da Criança e da Família no Davis Center da Universidade da Califórnia. Apesar do facto de nenhuma delas falar ou compreender a língua nativa da outra, ainda assim encontraram uma forma de se fazerem entender. Sentados no chão, com um livro entre si, um passava a página enquanto o outro apontava a imagem e fazia o gesto respectivo do Programa Baby Signs®.» (1)

A língua Universal é um sonho antigo da Humanidade. Talvez andemos a complicar ao procurá-la nos lugares errados, quando mergulhamos na música e nas artes e a resposta esteja, afinal, nos bebés.

A verdade é que este é um relato muito frequente que recebemos das creches com diversidade cultural, certificadas por nós: pais e bebés compreendem-se entre si através da comunicação do Programa Baby Signs®. Mais um benefício que surge de uma postura de abertura,  uma Comunicação TOTAL (um dia destes venho cá falar disto convosco) e universal.

C O R A Ç Ã O

«É durante estes três primeiros anos cruciais que os bebés aprendem o que esperar do mundo e como este lhes responde. A importância de serem capazes de comunicar as suas necessidades, alegrias e medos durante esta fase crítica – e verem-se compreendidos, não deveria ser sub-estimada. É por isto que acreditamos que o que o Programa Baby Signs® traz aos bebés faz mais pelos seus corações do que pelas suas mentes.» (1)

A citação fala por si e dispensará explicações. Optei por apelidar este preceito de  C O R A Ç Ã O  de forma a poder abraçar uma série de outros preceitos que são cruciais e que são eles, dentro do coração:

A M O R

B O N D A D E

G E N T I L E Z A

A L E G R I A

C O M P A I X Ã O

e… a  A U T O – C O M P A I X Ã O

T R A B A L H O

«Pode acontecer o seu bebé demorar a começar a usar o gesto. As recompensas de ter este modo de comunicação justificam a espera. No desenvolvimento da criança, quer seja andar, quer seja falar, tudo cumpre um processo e leva o seu tempo. As crianças têm de praticar repetidas vezes antes de aprender e dominar determinada competência.» (1)

O trabalho na parentalidade assenta nesta trilogia:

R E P E T I Ç Ã O

C O N S I S I S T Ê N C I A

P E R S E V E R A N Ç A

Estas são características, ou antes, competências que devemos exercitar quando temos filhos ou crianças ao nosso cuidado. Ao contrário, sob pena de entrarmos em espirais de frustração, cansaço e conflito.

Da mesma forma como nos debruçamos sobre cada desafio com atitude de trabalho, também os nossos pequeninos nos seguirão o exemplo. Assim, com esta atitude face aos nossos objectivos, logo encontramos a paciência para aceitar o factor “ritmo de cada um” – pois os passos estão todos a ser dados.

Sem trabalho não conseguimos alcançar resultados sólidos. Isto é universal e transversal a tudo.

O P O R T U N I D A D E

«O mais gratificante, no entanto, foi a forma como os pais testemunharam as suas experiências com o Programa Baby Signs®. Falaram entusiasticamente de benefícios dos quais tínhamos expectativa de que usufruíssem: aumento da comunicação efectiva, diminuição da frustração e fortalecimento do vínculo entre pais e bebé. Porém, também nos alertara para vantagens mais subtis que não tínhamos considerado, como o aumento da auto-confiança, interesse em livros, etc. (…)

As evidências científicas são avassaladoras no que respeita as oportunidades que o Programa Baby Signs® oferece, nomeadamente como um avanço no início de vida, avanço este de que as crianças continuam a beneficiar ao longo da vida, muito depois de abandonarem o mundo dos gestos.” (1)

Isto trata de dar e receber oportunidades. O Programa Baby Signs® trata de oportunidade(s) na e para lá da comunicação, incluindo treinar-nos na capacidade de pais e profissionais sobre como aproveitar “janelas abertas” para as quais tantas vezes não estamos despertos e que deixamos passar sem aproveitar. Tenho muito mais a dizer quanto aos diferentes de oportunidade que este programa oferece a bebés, pais e profissionais – noutro texto, exclusivamente dedicado a este preceito. Fiquem atentos.

Para já, gostaria de vos convidar a este exercício:
Considerar estes preceitos num caminho que se faz, para trás e para a frente, entre a flexibilidade e o agarrar das oportunidades que nos surgem. Ou seja, todos os dias, encontramos abertas janelas de oportunidade nas várias dimensões da nossa vida – e, com os nossos bebés é a mesma coisa. Todos os dias, os bebés nos mostram o caminho (isto é muito Montessori, by the way…) e cabe-nos aproveitá-las.

Os pais e profissionais formados no Programa Baby Signs® são pessoas com especial competência para ler e aproveitar estas oportunidades. Com uma atitude de flexibilidade, encaixando todos os outros preceitos descritos, os pais e profissionais treinados no Programa Baby Signs® raramente deixam passar oportunidades de comunicação e isso, garanto-vos – palavra de terapeuta da fala, faz toda a diferença no desenvolvimento da fala e da linguagem dos pequenos, a par com o seu desenvolvimento emocional.

Obrigada pela leitura. Estou disponível para continuar esta “conversa” contigo, deixo os meus contactos abaixo.

Desejos de um dia feliz,
Sandra Cruz
Terapeuta da Fala

Instrutora Certificada Independente do Programa Baby Signs®
Baby Signs em Coimbra com Sandra Cruz @Bem Dita Terapia
@instragram e www.bemditaterapia.com

📧 sandracruz@babysigns.pt ou bemditaterapia@gmail.com

📲 96 78 77 063

Referências:
com tradução-livre de Sandra Cruz,  Linda Acredolo e Susan Goodwyn, in:

(1) Baby Signs: How to Talk with Your Baby Before Your Baby Can Talk, McGrawHill Ed., 3ªed., Nova Iorque, 2009

(2) Baby Hearts: A Guide to Giving Your Child an Emotional Head Start, Bantam Dell Ed./ Random House, Nova Iorque, 2005

(3) Baby Minds: Brain-Building Games Your Baby Will Love, Bantam Dell Ed., Nova Iorque, 2000

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